Por Ildeu Moreira – IF/UFRJ
Um editorial de hoje de O Globo do dia 10/02 constata a crise de recursos para a CT mas absolve o governo golpista, apoiado por ele, e faz uma interpretação enviesada do passado.
Alguns comentários sobre ele:
1) O editorial, apesar de apontar corretamente a crise de recursos na ciência brasileira a atribui à “crise do Estado” que afeta as pesquisas, “como não poderia deixar de ser”;
2) O crescimento grande dos recursos para a C&T, em anos anteriores, é atribuído à “bonança” do início da década e não a uma política executada no governo Lula, que levou ao crescimento significativo dos recursos para C&T e à criação e expansão de universidades e institutos federais. Notem o primor da argumentação que desconsidera avanços reais naquele período: “porém, mesmo que a falência pública não houvesse ocorrido, a atividade continuaria acanhada” (claro que os recursos foram insuficientes, mas cresceram significativamente, do mesmo modo com a formação de pessoal e a produção cientifica, como mostram todos os indicadores). A satisfação dos cientistas, mensurada por O Globo, em 2011, era certamente fruto do acaso …
3) O editorial registra acertadamente que “o relacionamento entre setor privado e a atividade de pesquisa e desenvolvimento (P&D), na área pública, nunca foi bem resolvido no país” (mas sem analisar os porquês) e que a política burra (termo meu) de reduzir tais recursos se iniciou com o governo Dilma, em 2014. Mas deixa de apontar que a situação ficou MUITO PIOR com o governo Temer, com a extinção/fusão do MCTI, com o rebaixamento hierárquico do CNPq, Finep, …, com o corte acentuado no orçamento do MCTI e da Capes, e com a criação no apagar das luzes de 2016, de uma nova fonte de recursos (fonte 900) retirando verbas das áreas de educação e CT&I (recursos esses que estavam antes assegurados pela fonte 100, que tem pagamento garantido pelo Tesouro Nacional).
4) O Globo parece tentar recuperar alguma credibilidade junto à comunidade acadêmica, dada a situação catastrófica do atual governo que ajudou a criar, mas o uso continuado do cachimbo excludente, golpista e autoritário torna a boca torta. Mas estou de pleno acordo com a última frase do editorial: “É preciso fazer bem mais.” Vamos ver se o governo títere acompanhará os movimentos dos cordéis do principal órgão da mídia que pauta, quando não determina, sua agenda política.
Mas só acredito nisto se houver pressão forte da comunidade cientifica e da sociedade.